Ao definir seu propósito como “Transformar os pequenos negócios em protagonistas do desenvolvimento sustentável do Brasil” com a perspectiva de “atuar em rede para transformação do ambiente de negócios e territórios” O Sebrae faz referência à aspiração de um ambiente socioeconômico favorável aos pequenos negócios, com forte empreendedorismo, elevada produtividade da economia, mais e melhores oportunidades de trabalho. A lógica que embasa essas definições (presentes no mapa estratégico da instituição) é a de uma abordagem ampliada, que considera as diferentes dimensões da competitividade, enxergando nos territórios um contexto determinante para a longevidade das pequenas empresas do país.

É importante destacar que a atuação do Sebrae para a melhoria do ambiente de negócios vem de longa data, com um trabalho intenso de articulação e colaboração com legisladores e parcerias com órgãos de controle, federações municipalistas e associações empresariais, com grandes marcos como a aprovação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, a criação da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios – Redesim e a instituição do Microempreendedor Individual. Mas todo esse esforço relacionado à modernização de políticas públicas pressupõe uma etapa fundamental: a implementação nos territórios e municípios.

Aqui residem outros desafios, tendo em vista que as abordagens territoriais se deparam com os mais variados perfis, características e vocações, e precisam se integrar às interações entre as três forças que atuam na dinâmica de um território: poder público, mercado e sociedade. Cada uma delas tem seu papel e capacidade autônoma de influenciar o processo de desenvolvimento. A relação entre essas forças é quase sempre espontânea, inconstante e desequilibrada, com hierarquias e decisões que raramente convergem ao mesmo propósito, ainda que, de forma geral, todas queiram viver em um lugar melhor, mais seguro e próspero. Então, como transformar esses desejos abstratos em algo concreto, real, pragmático, construindo uma agenda comum a partir de diferentes visões e perspectivas?

A resposta passa pelo estímulo à atividade econômica, geração e manutenção de riqueza em nível local. Isso significa estimular a atividade empreendedora atual e do futuro e criar condições para essa atividade se sustentar, melhorando o ambiente de negócios. Ou seja, passa por uma agenda verdadeira e efetiva de desenvolvimento e não apenas de crescimento. É preciso pontuar as diferenças conceituais entre crescimento e desenvolvimento, pois enquanto o primeiro tem características meramente quantitativas, o segundo pressupõe transformações mais profundas, com efeitos positivos e duradouros na sociedade. O desenvolvimento traz, a reboque, avanços relacionados ao bem-estar social e ao meio ambiente e, em última instância, gera a melhoria da qualidade de vida da população.

Para uma abordagem transformadora com foco no desenvolvimento, é preciso estar alicerçado sobre a inteligência territorial por meio de dados e indicadores concretos para conhecer as reais necessidades e vocações do território, identificar os recursos e competências locais. A ideia central que resume esses princípios é a assertividade. É reconhecer as diferenças e singularidades e conseguir customizar a agenda de acordo com essas características.

Mas não basta conhecer o território por meio de números, é preciso vivenciá-lo e entendê-lo também a partir daquilo que os dados não conseguem mostrar, cunhando uma verdadeira consciência territorial que pode ser descrita como aquilo que emerge de um processo de integração de diversos conhecimentos, percepções, comportamentos e dinâmicas que se organizam e se conectam. É a articulação entre diferentes informações, concretas e abstratas, que geram uma estrutura lógica e inteligível a partir de um sistema altamente complexo.

Qualquer território, compreendido sob à ótica das vertentes de poder, identidade e região, é uma excelente representação dessa complexidade, com incontáveis elementos tangíveis e intangíveis que convivem e interagem num elevado grau de interdependência, sendo boa parte dela, desarticulada e caótica. Portanto, abordagens territoriais devem ser, antes de tudo, sistêmicas, capazes de enxergar essa dinâmica e a extensa cadeia de influências e impactos que vão muito além do objeto direto de uma intervenção, seja ela de caráter social, econômico ou ambiental. É uma atuação que demanda ampla noção do contexto no qual pessoas, empresas, instituições, processos, recursos naturais, cultura e identidade estão inseridas.

Embora não haja um ordenamento rígido no processo de desenvolvimento, a consciência territorial abre caminho para a construção e consolidação da governança do território, que se inicia pela catalização e convergência de instituições e lideranças, estabelecendo objetivos, prioridades e estratégias que irão direcionar as ações para uma ampla e efetiva intervenção. É a articulação entre esses ativos, buscando a unificação de objetivos o que irá transformar a capacidade de influência em contribuição real, tendo o apoio de um agente neutro, mediador, que organiza as capacidades manifestadas pelos atores locais – seus habitantes, sua rede de empresas, suas instituições governamentais e seu diversificado tecido social. A interação positiva entre essas forças faz com que o processo de desenvolvimento se acelere e comece a ganhar sustentação.

Nesse contexto, o Sebrae – instrumentado por recursos, ferramentas e abordagens estratégicas como o Programa “Liderança para o Desenvolvimento Regional – LIDER” e o “Cidade Empreendedora” – atua em nível local, fortalecendo relações e ajudando a construir o capital social dos territórios. O Sebrae é um agente capaz de transitar, de forma positiva e relevante, em todas as etapas do processo de desenvolvimento, potencializando e direcionando-o para resultados expressivos e duradouros. Ainda que amparado por direcionamentos, recursos e ferramentas nacionais e estaduais, o Sebrae se posiciona como um ator essencialmente local, podendo assumir o papel de liderança de forma natural, por sua iniciativa, neutralidade e competência, mas sempre construindo relações de confiança e cooperação, sendo um agente que organiza, articula, inicia e acelera a engrenagem do desenvolvimento, empoderando e estimulando o protagonismo local.

Com base em toda a complexidade que são os territórios e suas respectivas dinâmicas, é fato que – na acepção literal das palavras – as cidades estão longe de fazer jus aos termos “inteligentes” ou “empreendedoras”. Do ponto de vista semântico, as cidades não poderiam ser qualificadas com um adjetivo que pressupõe a ação de uma persona ou de um grupo unificado, uma vez que são compostas e caracterizadas por elementos extremamente diversificados. No entanto, como figuras de linguagem, esses termos trazem importantes indicações de aspectos que precisam se fazer presentes na idealização das cidades.

Assim como as cidades inteligentes precisam ter uma gestão eficiente, a partir de uma visão holística, baseada em indicadores e tendo a tecnologia como meio facilitador para o bem-estar da sua população, uma cidade empreendedora deve ter um conjunto organizado de processos, atores, instituições e lideranças que permita, facilite e encoraje a atividade econômica. Para o Sebrae, cidades começam a ser empreendedoras quando os seus principais atores estão engajados, conectados e trabalhando juntos pela melhoria do ambiente de negócios, estímulo ao empreendedorismo e valorização da economia local.